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Linguagem no Adulto2024-06-28T17:48:43+00:00

Linguagem no Adulto

A linguagem é o sistema dinâmico e complexo de símbolos convencionais utilizado de diferentes formas para a comunicação e o pensamento. A capacidade de participar e de lidar com a vida quotidiana é fortemente influenciada pelo domínio da Linguagem.

As alterações da linguagem podem também ocorrer nos adultos, sendo neste caso uma patologia adquirida, decorrente de uma lesão cerebral (AVC, tumores, traumatismos, entre outras). A perturbação da linguagem mais frequente tem o nome de afasia, e as suas consequências estendem-se, não só ao utente, mas também à família e amigos.

Dada a estreita relação de interdependência entre linguagem e todas as dimensões biológica, cognitiva e social, é de esperar uma igual complexidade e variedade de perturbações que podem alterar a linguagem e influenciar, de alguma forma, a comunicação e interação entre as pessoas, com diferentes graus de gravidade. O estudo das perturbações adquiridas da linguagem é um processo complexo e deve considerar uma variedade de fatores.

Considerando que podem ocorrer alterações profundas da linguagem (oral e escrita), não é difícil imaginar o impacto da afasia na qualidade de vida das pessoas que com ela passam a conviver: a pessoa com afasia, os seus familiares e amigos bem como todo a comunidade.

Departamento de Linguagem no adulto da SPTF é responsável pela dinamização da evolução do conhecimento das perturbações neurogénicas com impacto linguagem em pessoas adultas. Tem como missão promover a reflexão, partilha e aprendizagem científica que contribuam para a adoção de práticas baseadas na evidência e, desta forma, possam fomentar um apoio mais eficaz a pessoas com alterações adquiridas da linguagem e às suas famílias.

A EQUIPA: DEPARTAMENTO DA LINGUAGEM NO ADULTO

Inês Tello Rodrigues
Coordenador
Ana Murteira
Vice-Coordenador
Beatriz Stein
Membro
João Graça
Membro
Mariana Ferreira
Membro

EVENTOS: LINGUAGEM NO ADULTO

16 março 2024 Neuroimagem na Afasia

Quaisquer quadros afásicos, independentemente da sua natureza, apresentam como condição fundamental alteração do tecido cortical e/ou subcortical pelo que é fundamental que o Terapeuta da Fala possua conhecimentos da organização morfológica e fisiológica da estrutura cerebral.

MAIS INFORMAÇÕES

SABIA QUE…

1

A realização de terapia da fala, de forma intensiva, integrada e em contexto de grupo tem um impacto positivo na melhoria da comunicação, das funções de linguagem e nos domínios da qualidade de vida em pessoas com afasia?

O que nos diz este artigo?
(clique aqui para ler o estudo)

Os Intensive Comprehensive Aphasia Program (ICAP) são um modelo de serviço de reabilitação comportamental para a afasia (Rose et al, 2013). Os ICAP assentam em pressupostos:

  1. A intensidade do tratamento na afasia

A intensidade do tratamento refere-se a um conjunto de conceitos que inclui:

  1. Parâmetros temporais incluindo frequência e duração das sessões e distribuição e duração da intervenção por período de tempo;
  2. Parâmetros intra-sessão, incluindo tipo de estímulos e dose de aplicação necessários para maximizar a linguagem e a comunicação de pessoas com afasia.

Alguns estudos apontam que os ICAPS deverão providenciar o mínimo de três horas de intervenção diárias, por um período mínimo de duas semanas ou trinta horas de intervenção totais.

  1. Tratamento integrado na afasia

Os estudos indicam que a intervenção oferece melhores resultados quando, em simultâneo, a intervenção se centra na linguagem, comunicação e nos domínios da qualidade de vida (atividades e participação);

A pessoa com afasia deverá ter acesso a uma série de abordagens e formatos de intervenção baseadas na evidência e centradas na pessoa (ex.: sessões individuais, sessões de grupo, sessões com uso de recursos tecnológicos, integração na comunidade), o que vai ao encontro aos domínios de atividade e participação definidos para Organização Mundial de Saúde;

Os ICAPs devem igualmente providenciar psicoeducação de indivíduos com afasia, incluindo formação e treino de parceiros comunicativos.

  1. Intervenção na afasia em contexto de cohort (grupo de pessoas que partilham algum fator comum)

A evidência sugere que a intervenção em cohort permite uma maior partilha de experiências e o suporte do grupo;

Garantir um tratamento intensivo e integrado a indivíduos com afasia, vai de encontro ao conceito da natureza social da comunicação do Life Participation Approach to Aphasia, tendo como objetivos principais:

a) uma maior generalização das funções da linguagem e da comunicação comparativamente ao formato de sessões apenas individuais;

b) contribuir para diminuição do isolamento social e uma maior participação social;

Apesar da crescente investigação sobre a implementação clínica deste tipo de modelo de serviço, continua a existir um gap entre aquilo que a investigação científica traz como evidência de melhores práticas e a realidade do tratamento usual.

E? fundamental que se possa continuar a discutir a relevância de aspetos como intensidade de tratamento e modelos de aplicação de intervenção, baseados na mais recente evidência, para que se possa oferecer tratamentos que sejam o mais adequado à necessidade individual das pessoas com afasia.

Referências:

Scharp, V. L., Off, C., & Griffin-Musick, J. (2024). Intensive Comprehensive Aphasia Programs (ICAPs): Launching the next decade of research and clinical implementation. Aphasiology, 1–10. https://doi.org/10.1080/02687038.2024.2319906

Rose, M. L., Cherney, L. R., & Worrall, L. E. (2013). Intensive comprehensive aphasia programs: an international survey of practice. Topics in stroke rehabilitation, 20(5), 379–387. https:/org/10.1310/tsr2005-379

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2

Em pessoas com afasia após AVC, alguns estudos sugerem que a utilização de técnicas de estimulação cerebral não-invasiva coadjuvante à intervenção da Terapia da Fala conduz a uma melhor recuperação das funções de linguagem?

O que nos diz este artigo?

(clique aqui para ler o estudo)

A estimulação cerebral não-invasiva (ECNI) é uma técnica emergente, de neuromodulação central, com as principais vantagens de não ser invasiva, ter poucos efeitos secundários, boa aceitação por parte dos doentes e ser facilmente reproduzível e conduzida. A ECNI pode ser usada para inibir ou estimular diferentes áreas cerebrais, facilitando a rede de conexões para a linguagem após o AVC.

Os estudos científicos têm utilizado vários protocolos de estimulação cerebral não-invasiva, como técnica coadjuvante à terapia da fala, demonstrando efeitos promissores na melhoria das funções de linguagem, em pessoas com afasia após AVC. Contudo, existem ainda muitas dúvidas relativamente a quais os protocolos de ECNI mais eficazes.

Este artigo, em forma de revisão sistemática com meta-análise, apresenta como objetivos de estudo: a) a análise da eficácia e segurança de técnicas de ECNI em combinação com Terapia da Fala e b) a comparação da eficácia de duas técnicas de ECNI (rTMS e tDCS) em combinação com Terapia da Fala.

Os resultados desta revisão sistemática com meta-análise demonstraram que a utilização destas técnicas combinadas com terapia da fala, comparativamente com apenas intervenção comportamental (terapia da fala), diminuiram o grau de gravidade da afasia, promovendo a recuperação das funções da linguagem, tais como o discurso espontâneo, a compreensão auditiva, repetição e a nomeação.

Os resultados deste estudo concluíram também que a utilização de uma técnica específica de ECNI, a rTMS (protocolo que pressupõe a disrupção da atividade cerebral em região do hemisfério cerebral contralateral à lesão), aplicada em conjunto com a Terapia da Fala, demonstrou maior eficácia, quando comparado com apenas intervenção comportamental da terapia da fala.

Nesta meta-análise, a comparação entre as duas técnicas de ECNI (rTMS e tDCS), quando utilizadas em conjunto com a intervenção da terapia da fala, não produziram resultados estatisticamente significativos.

Os protocolos de ECNI utilizados demonstraram uma aplicabilidade segura para as pessoas com afasia após AVC.

Referências:

Han C, Tang J, Tang B, Han T, Pan J, Wang N. The effectiveness and safety of noninvasive brain stimulation technology combined with speech training on aphasia after stroke: A systematic review and meta-analysis. Medicine (Baltimore). 2024 Jan 12;103(2):e36880. Doi: 10.1097/MD.0000000000036880. PMID: 38215135; PMCID: PMC10783273.

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3

Existem evidências de que, numa pessoa bilingue, as palavras de ambas as línguas são simultaneamente ativadas durante a produção do discurso e que, diferentes fatores podem influenciar a seleção inadvertida de uma língua sob a outra.

O que nos diz este artigo?

(clique aqui para ler o estudo)

Nas pessoas bilingues com afasia, é também comum, durante a produção de discurso, a troca inadvertida entre línguas (também designado de code-switching). Ou seja, a intrusão não propositada de palavras de uma outra língua do falante, sendo que este comportamento pode ocorrer entre frases ou até mesmo durante a produção de uma única frase.

Esta troca não propositada entre as línguas, demonstra que, num determinado momento em que acesso lexical à palavra é necessário, a língua menos utilizada, encontra-se mais disponível do que a língua pretendida.

Diversos estudos atribuem os erros de seleção de língua, em falantes bilingues, a quatro fatores principais: a proficiência ou dominância (ou seja, quando mais proeficiente é o falante, maior a probabilidade da língua estar ativa ou acessível e maior a interferência da mesma durante o acesso lexical), contexto da interação (isto é, qual a língua expectável para a comunicação, num dado contexto), a exigência da tarefa linguística e a similaridade fonológica entre palavras de diferentes línguas. Duas visões opostas atribuem a origem destes erros a uma dificuldade no controlo cognitivo ou a dificuldades no acesso lexical.

O presente estudo investigou a possível origem da alternância inadvertida entre línguas, em falantes bilingues com afasia, através de uma exaustiva análise da influência dos quatro fatores acima referidos (ou seja, fatores aumentam a probabilidade da ativação cruzada de línguas), em tarefas de nomeação de imagens.

Os resultados deste estudo não são compatíveis com a hipótese de dificuldades no controlo cognitivo e sugerem que o padrão de seleção inadvertida da língua é resultado de dificuldades no acesso lexical. Neste contexto, a alternância entre línguas pode ser um tipo de parafasia e, potencialmente, refletir uma estratégia (consciente ou inconsciente) para compensar as dificuldades no acesso lexical e manter a eficiência da comunicação, independentemente da língua utilizada.

Referências

Hameau, S., Dmowski, U., & Nickels, L. (2022). Factors affecting cross-language activation and language mixing in bilingual aphasia: A case study. Aphasiology, 37(8), 1149–1172. https://doi.org/10.1080/02687038.2022.2081960

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