Atendimento presencial – SARS-Covid 19

No âmbito da pandemia da doença COVID-19, tendo em consideração as medidas adotadas pela República Portuguesa durante as fases de contenção, mitigação e recuperação,  os diversos locais de trabalho em que os terapeutas da fala (TF) prestam serviços, tiveram que se ajustar a normas especiais de higiene e segurança, bem como de distanciamento social.

Os Terapeutas da Fala com atuação na área de voz apresentam risco acrescido dado estarem em contacto próximo e expostos diretamente a gotículas vindas dos pacientes, nas atividades de fala e exercícios usualmente solicitados durante a avaliação e/ou intervenção, pelo que deverão ajustar-se ao risco relativo de cada situação e adotar medidas de proteções adequadas.

Medidas de higiene e segurança na área da Voz

Assente nas normas Direção Geral de Saúde (DGS):

  • Cada Entidade deve seguir as medidas definidas no seu Plano de Contingência interno.
  • O profissional deve receber formação adequada para o uso correto do Equipamento de Proteção Individual (EPI);
  • A avaliação/intervenção dos profissionais de saúde deve ser garantidamente realizada com a utilização de EPI de acordo com o nível de cuidados a prestar, em conformidade com a Norma 007/2020 da DGS.
  • A ausência total de cuidados de reabilitação poderá ter impacto negativo a curto/médio prazo para aqueles doentes, com elevado risco de diminuição da sua capacidade funcional/estado de saúde.
    • A análise do risco de infeção da intervenção deverá ser calculada em cada serviço, de acordo com as funções do terapeuta da fala e das áreas de intervenção que assegura.
    • Na generalidade das áreas de intervenção da terapia da fala, no quadro de pandemia a terapia vocal presencial não é prioritária na prevenção da infeção, pelo que poderá ser adiada.

Enquadra-se, assim, nesta orientação a terapia vocal, dado vários procedimentos de avaliação e intervenção gerarem aerossóis. São exemplos disto: produção de atividades de avaliação da coordenação respiração-fonação (p.e. TMF, Coeficiente S/Z), ou outros procedimentos como desinsuflar cuf, estimular a tosse, adaptação de válvula de fala (Passymuir), troca de cânulas, limpeza da prótese fonatória, processo de descanulação, avaliação ou intervenção em pacientes que utilizem ventilação não invasiva (VNI); oxigênio nasal de alto fluxo; suporte respiratório por cânulas nasais.

Num paciente com COVID-19, e só no caso de ser imprescindível, a realização procedimentos que promovam a libertação de aerossóis só poderão ser efetuados com a utilização de EPI completo, de acordo com as indicações da OMS e da DGS em cada fase de controlo da pandemia. Em linha com as especificidades da área de Otorrinolaringologia (https://www.sporl.pt/covid19), à data da elaboração deste documento incluem-se, máscaras, respiradores FFP2 ou FFP3  e viseira ou óculos, bata descartável, luvas, proteção de calçado e touca (ver quadro abaixo).

Máscara cirúrgica Proteção ocular Máscara FFP2/3 Bata impermeável Luvas Touca
Doente sem sintomas respiratórios e sem exame objetivo X
Doente sem sintomas respiratórios e com exame objetivo que não inclua a via aérea (ex. avaliação percetiva) X X X X X
Doente com sintomas respiratórios agudos X X X X X
Doente que vai ter exame clínico da via aérea (ex. exame de estruturas orofaciais, reflexos orais, etc.) X X X X X
Doente que vai ter exame endoscópico da via aérea (ex. colaboração em laringoscopia ou VEES) X X X X X

Fonte: Adaptado de SPORL-CCP (2020) Recomendações relativas ao risco de infeção pelo COVID-19 [https://www.sporl.pt/covid19]

Se o procedimento clínico não puder ser modificado e se o EPI apropriado não estiver disponível, a interação clínica não deverá prosseguir.

Assim, e ainda seguindo as normas da DGS, deve ser realizada:

  • Avaliação das necessidades individuais de todos os utentes de forma a reduzir o número de contactos presenciais ao mínimo possível;
  • Adequação do plano de cuidados de reabilitação, sempre que possível sem contacto direto com o doente, por meio de ensino de exercícios terapêuticos ou através de sistemas de monitorização e acompanhamento por videochamada (regime híbrido associado a sistemas de telemedicina, telesaúde e e-health).

Deverão ser adotadas medidas suplementares como:

  • Cancelar terapias de nível de prioridade baixa de acordo com plano de contingência DGS e dar preferência à teleprática;
  • Se existir mais do que um TF, apenas um deve ficar afeto a doentes COVID-19, procurando medidas de não cruzamento de equipas/profissionais e de períodos de quarentena/descanso, em rotatividade com outros profissionais. Por outro lado, os restantes devem dedicar-se a doentes não-COVID-19;
  • Outras medidas específicas deverão ser adotadas dependendo da presença ou ausência de suspeita ou confirmação de COVID-19, de acordo com os pontos abaixo indicados;
  • Sempre que a evolução epidemiológica e científica demonstre a necessidade de implementação de novas medidas a presente orientação é atualizada em conformidade com diretrizes da DGS.

Cuidados prestados a utentes não suspeitos ou não testados de COVID-19

  • Todos os utentes deverão ter uma medição da temperatura à chegada ao serviço (em concordância com os procedimentos de receção e triagem definidos pela instituição), prévia à consulta de terapia da fala;
  • Todos os utentes deverão usar máscara cirúrgica desde a chegada e durante a permanência na unidade de saúde, incluindo a consulta de terapia da fala;
  • Na conversação, o terapeuta da fala deve proteger-se com máscara cirúrgica e luvas e manter distância de segurança (2 m);
  • Durante a consulta deverá reduzir-se a duração de contacto próximo;
  • A realização de exercícios que envolvam expiração forçada, sopro ou produção de gotículas ou aerossóis deve ser evitada. Caso seja essencial a sua realização o utente deverá manter o uso de máscara cirúrgica e o terapeuta deverá posicionar-se a distância de segurança (2 m).
  • Deverá realizar os procedimentos de higiene e segurança de acordo com o apresentado nos seguintes vídeos:

 Vídeo 1         Vídeo 2

Medidas específicas na prestação de cuidados a Traqueotomizados/ Laringectomizados

  • Devem cobrir sempre o estoma, o nariz e a boca com máscaras cirúrgicas, no ambiente hospitalar e/ ou fora do domicílio independentemente de ser traqueotomizado/ laringectomizado;
  • Todos os traqueotomizados/ laringectomizados devem usar um dispositivo de humidificação, aquecimento e filtração de ar (vulgo HME), por exemplo o HME Micron® ou o ProTrach® XtraCare™ para adaptação na cânula Shiley® ou equivalentes e se possível o adesivo (ambos os dispositivos referidos protegem contra bactérias e vírus acima de 99%);
  • Ao usar-se o HME [por exemplo, Xtramoist™, Xtraflow™ ou Cassete™ – HME que fixa à válvula de mãos livres] deverá usar-se máscara cirúrgica sobre o estoma;
  • Qualquer tipo de dispositivo fixado à cânula não isenta o uso de máscara cirúrgica sobre o estoma pois não é estanque como o adesivo;
  • Os utentes devem higienizar as mãos antes e depois do contacto destas com o estoma;
  • Aos utentes com prótese fonatória e que assim tenham condições, sugere-se utilizar a válvula de mãos livres para minimizar o contacto das mãos com o estoma;
  • As manobras como a desinsuflação de cânulas e/ou descanulação são geradoras de aerossóis, pelo que devem ser evitadas ou realizadas com as devidas medidas de proteção e com as devidas medidas de higienização das salas de intervenção.

 Vídeo 1         Vídeo 2

Cuidados prestados a pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19

De acordo com as normas gerais da DGS anteriormente descritas, num paciente com COVID-19, e só no caso de ser imprescindível, a realização de procedimentos que promovam a libertação de aerossóis só poderá ser efetuada com a utilização de EPI completo (nível 2). Neste enquadramento, considera-se que a terapia da voz deverá ser preferencialmente adiada, dado não se tratar de um cuidado de saúde prioritário.

Em casos absolutamente excecionais, havendo necessidade de o terapeuta da fala prestar cuidados dentro de uma área de doentes de COVID-19, este deverá:

  • Usar EPI adequado (Norma nº 007/2020) em qualquer atividade durante todo o tempo de permanência na área COVID-19;
  • Evitar contacto próximo;
  • Reduzir o tempo de exposição;
  • Realizar os seguintes procedimentos de higiene e segurança, de acordo com o vídeo exemplificativo

Medidas específicas na prestação de cuidados a Traqueotomizados/ Laringectomizados

  • Os doentes traqueotomizados/ laringectomizados devem cumprir todos os cuidados descritos anteriormente, similarmente aos utentes não suspeitos ou não testados;
  • Os doentes traqueotomizados/ laringectomizados suspeitos ou confirmados com COVID19, devem usar, para além do HME, uma máscara cirúrgica;
  • A adaptação de válvula Passymuir® ou válvula de fala nos pacientes com Covid está contraindicada.

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